Dados Bibliográficos

AUTOR(ES) Els Lagrou
EDITOR(ES) Els Lagrou , Clarice Cohn , Ana Gabriela Morim de Lima
ANO 2016
TIPO Book
PERIÓDICO Palavras em imagens
DOI 10.4000/books.oep.823
ADICIONADO EM 2025-08-29

Resumo

Este artigo analisa o papel da miçanga nos mitos e ritos Kaxinawa, comparando-o com dados de outros grupos ameríndios, para lançar luz sobre temas importantes na etnologia ameríndia contemporânea. A centralidade da miçanga no rito de passagem Kaxinawa destaca a incorporação de forças agentivas da alteridade na constituição da pessoa. A miçanga, inicialmente um troféu de guerra, transforma-se em força exógena encapsulada que contribui para a formação do corpo da criança. Essa 'captura' segue uma lógica estética: partículas descontínuas são transformadas em um tecido contínuo de cores e motivos que seguem a lógica estilística local. O encapsulamento também é ritual. Os cantos do nixpupima visam 'alegrar' o Inka, deus canibal da morte, tornando-o presente na matéria. Enquanto no mito as qualidades e sua reprodução eram conquistadas do Inka, inimigo avarento, a técnica ritual consiste em convidá-lo e seduzi-lo à colaboração. O tema da 'vida breve' presente na mitologia da miçanga, assim como nos mitos de origem da morte, fala de um tempo em que deuses e humanos viviam em continuidade e os mortos podiam retornar à vida. A miçanga era 'nossa'. O fascínio por materiais imperecíveis relaciona-se com a origem da morte e a separação entre índios e não índios. O artigo destaca o rendimento teórico da superposição de discursos ameríndios sobre artefatos e corpos. Na pintura corporal e na decoração com colares, há um entrelaçamento entre artefato e corpo, entre a fabricação de um corpo com capacidade agentiva e sua decoração. No caso Kaxinawa, os cantos rituais apontam para a necessidade de fabricar ossos, dentes e olhos de miçanga para as crianças, decorando o corpo interna e externamente com a dureza e brancura associadas ao Inka, inimigo e predador.

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